Os perigos do tabagismo têm como rastilho a primeira tragada por um fumante ativo, mas seu poder de propagação é avassalador para quem também nunca colocou nenhum cigarro sequer na boca. Todos os anos, morrem no mundo um milhão de fumantes passivos, aquelas pessoas que convivem com um tabagista e estão expostas à fumaça extremamente tóxica emitida pelo produto.
Esse foi um dos alertas dados pela enfermeira Gisele Gomes da Silva durante a palestra apresentada no último dia 19 de julho, em encontro on-line promovido no canal da Comunicação Energia no YouTube, no programa “Momento Saúde”. A live é parte da campanha antitabagismo desenvolvida pelas empresas do Grupo, cujo slogan é “Cigarro e vida, não rima!”, escolhido em concurso interno com a participação dos colaboradores.
Profissional com larga experiência em prevenção e promoção de saúde e gestão de saúde populacional, ela também falou sobre as variadas formas de consumo do tabaco para além do tradicional cigarro e informou: narguilé e cigarro eletrônico têm potencial ofensivo tão ou ainda mais elevado que a versão mais comum.
O encontro foi mediado pela jornalista Dani Klein, comunicóloga e especialista em ESG, que também trouxe seu depoimento como fumante passiva, detalhando os problemas ocasionados por essa condição, entre eles uma alergia extremamente grave contra a qual precisou recorrer a tratamento médico.
Gisele Gomes iniciou sua explanação detalhando os alarmantes dados que envolvem o consumo do tabaco.
- São mais de 8 milhões de mortes por ano no mundo.
- 7 milhões dessas mortes são do uso direto (tabagismo ativo).
- 1 milhão de mortes são de não fumantes.
- O tabagismo passivo é a terceira maior causa de morte no mundo.
- O cigarro contribui para o desenvolvimento de mais de 50 doenças relacionadas ao tabagismo, como cânceres, bronquite, rinite e sinusite às crises alérgicas. Também é responsável pelo surgimento de impotência sexual.
O primeiro passo para abandonar o hábito, aponta a profissional, é reconhecer a dependência. “Quando eu realmente identifico e aceito que eu sou dependente, consigo passar a pensar em abandonar o tabagismo. A gente precisa partir do princípio de aceitação: eu aceito que tenho um problema, uma doença de dependência química do tabaco e da nicotina. O que que eu vou fazer com isso agora? Eu quero me tratar?”
O acompanhamento médico, aliás, é uma das orientações indicadas pela enfermeira, diante da potência do mix químico inserido no produto. “Dentro do cigarro, há mais de 4.700 substâncias, entre elas a nicotina e o alcatrão. São elas que vão provocar toda essa dependência, mas há muitas outras substâncias. Arsênio, carbono, níquel, chumbo e substâncias radioativas, como o polônio. São substâncias extremamente cancerígenas. Elas vão reduzir a oxigenação dos tecidos e trazer muitas irritações. Estou falando de tudo: da nossa pele, coração, pulmão, rim, fígado, intestino, boca, língua….”, enumerou.
Narguilé e cigarro eletrônico
Sobre o narguilé, Gisele salienta que se trata de uma versão ainda mais prejudicial do que o cigarro convencional. “Pode não parecer, porque o narguilé veio muito inofensivo, embalando as pessoas nessa amizade. Só que ele não é amigo de ninguém. A passagem da fumaça pela água faz com que ela resfrie e facilite a inalação mais profunda. Ou seja, o vapor penetra mais intensamente nos pulmões, carregando as substâncias nocivas. Cada sessão de uma hora de narguilé equivale ao fumo de 100 cigarros.”
O glicerol presente no fundo do aparelho é outro componente perigoso. “Ele produz uma fumaça corrosiva capaz de causar lesões pulmonares e cardiovasculares. Há um grande risco também de lesões de boca.”
Em relação ao cigarro eletrônico, hoje proibido no país, cada pod (objeto com formato de pen drive) tem aproximadamente 0,7 ML da nicotina e possibilita 200 tragadas. É similar ao consumo de 20 cigarros convencionais.
“Não tem regulamentação. Ninguém sabe quais os componentes químicos de um cigarro eletrônico hoje. Cada fabricante pode colocar exatamente o que ele quiser ali dentro. Sabe-se sim que tem aí uma superdosagem de nicotina e de outras substâncias perigosas. Pesquisas apontam que fumantes de cigarro eletrônico têm mais risco de sofrer um ataque cardíaco ou um acidente vascular cerebral do que os não fumantes. Esse dispositivo também pode aumentar o risco de vários tipos de câncer.”
Fumaça é ainda mais perigosa
A fumaça que sai da ponta do cigarro tem em média três vezes mais nicotina do que aquela o conteúdo tragado pelo fumante, pois o cilindro de papel tem filtro. Eis aí a razão que revela a grande armadilha a que estão expostos os fumantes passivos. “Essa fumaça tem 50 vezes mais substâncias cancerígenas. Então, é importante que o fumante ativo pense como pode ajudar o próximo também. Como é importante praticar a resiliência e se colocar no lugar do outro.”
Para motivar o abandono do vício, a palestrante traz ainda mais informações.
- Após três meses sem fumar, o risco de ter um infarto diminui e a função pulmonar começa a melhorar.
- Em um ano, o risco de sofrer um infarto cai pela metade.
- Em 10 anos, recua pela metade também o risco de câncer.
- Após 15 anos, o risco de ter uma doença coronariana será o mesmo de uma pessoa que nunca fumou.
Para obter esses benefícios, ela dá algumas dicas e recomendações nessa jornada contra o fumo.
- Procure orientação médica. Hoje, existem medicamentos que auxiliam no desconforto da abstinência e da fissura, como adesivos e gomas de mascar. Há também terapia.
- Estabeleça uma data para parar de fumar ou para começar a parar de fumar.
- Desassocie o momento de fumar a alguma coisa prazerosa.
- Escolha o método que funcione melhor para você, se vai parar o tabagismo de uma vez ou se vai deixá-lo gradativamente.
- Pode ocorrer a fissura, aquela vontade extrema de fumar. A boa notícia é que a fissura dura no máximo no máximo cinco minutos. Concentre-se e deixe esse período passar.
- Ganho de peso não deve ser uma preocupação de quem quer parar de fumar. Quem fuma nem sabe ao certo o sabor dos alimentos, porque as papilas gustativas também estão contaminadas. Então, permita-se sentir a delícia das refeições. E, se tiver ganho de peso que lhe cause preocupação, procure um nutricionista.
Um testemunho de quem viveu esse drama
Ao final do encontro, a mediadora Dani Klein deu seu testemunho sobre a história de sua família com o tabaco. Filha de um pai que fumava de três a quatro maços de cigarro por dia, ela viu e sentiu de perto os malefícios desse consumo em sua família.
“Fumando, meu pai tinha o hábito de ler histórias. Ele tocava violão fumando para a gente. Isso me fez desenvolver uma alergia muito forte a cigarro. A alergia foi piorando ao extremo, estou fazendo há meses um tratamento.”
No caso da jornalista, um dos grandes problemas é a dificuldade de encontrar o agente causador da alergia, já que o cigarro contém quase 5 mil químicos, daí a inviabilidade de se submeter a um teste alérgico. “Se alguém fumar perto de mim e eu tiver contato com um dos químicos que me causa a alergia, posso, inclusive, ter broncoespasmo, posso morrer. Às vezes, eu me afasto rapidamente das pessoas que estão fumando e elas ainda ficam com raiva de mim. Já fui parar no hospital e são dias de tratamento”, contou.
Dani lembra que a mãe, por ter sido também fumante passiva, foi acometida por um tumor do tamanho de uma mexerica grande. “Não era maligno, mas foi um período difícil, porque ela precisou passar por uma cirurgia que exigiu uma recuperação muito complexa, devido ao tamanho do tumor.”
O capítulo mais dramático dessa história foi a perda do pai, com pouco mais de 55 anos, vítima de um câncer de pulmão severo causado pelo tabagismo. A morte veio apenas seis meses após o diagnóstico.
“Em dois ou três meses, ele estava em desespero, porque não conseguia mais sorver oxigênio. Ele pedia pra ir para rua para sentir o vento bater, mas ele não conseguia ter ar. E com a falta de oxigênio, passou a ter alucinações. A pele, também por falta de oxigenação, passou a se soltar do corpo”, lembrou Dani.
Participando como espectador da live, Marcelo Soares também prestou seu depoimento no chat. “Estou sem fumar faz mais de três anos, mas não é nada fácil… Procurei um profissional.”
Pudemos entender um pouco sobre como o fumo em geral é prejudicial para a saúde de todos, até mesmo para quem não fuma. Nossa campanha continua até setembro, e estamos promovendo outras palestras e ações nas empresas do grupo para disseminar informações sobre saúde e bem-estar entre todos os colaboradores. Nosso objetivo é garantir que todos tenham acesso a essas informações, em linha com o que é proposto pela ODS 3 (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável) relacionado à saúde.
Publicado por KICK